sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O valor da formação humanística em Direito


Hoje eu gostaria de apresentar mais um lançamento de um grande amigo, meu ex-colega de São Francisco e também de Editora Saraiva, o queridíssimo Fábio Maciel, que a pedido nosso preparou outra obra vitoriosa. Falo de Formação Humanística em Direito, livro delicioso e composto por 10 capítulos distintos, a saber: Introdução ao estudo e à Teoria Geral do Direito; Hermenêutica e interpretação do Direito; Antropologia jurídica; Sociologia do Direito; Psicologia jurídica; Ciência política e teoria do Estado; História do Direito; Ética geral e jurídica e Estatuto da OAB; Direitos Humanos; Filosofia do Direito.

Tudo começou em 2009, quando o CNJ (aliás, que sufoco essa semana, hein?) baixou a Resolução n. 75, de 12 de maio, que dispõe sobre os concursos para ingresso na carreira da magistratura, em qualquer ramo do Poder Judiciário. Como é sabido, essa norma, em seu Anexo VI, elenca as chamadas disciplinas de formação humanística (também me peguei com essa nomenclatura, mas como chamar o conjunto dessas disciplinas em substituição à denominação  preconceituosa de “perfumarias jurídicas”?). Pois bem, tais disciplinas passaram a compor o elenco básico de conhecimentos necessários à formação do candidato a magistrado (ainda bem) e, por força desse fato, logo passaram a integrar as aulas dos cursos preparatórios.

Lá na Saraiva, nessa oportunidade, acatamos de pronto a ideia do Fábio, que possui mestrado em Filosofia do Direito e uma longa trajetória na História do pensamento jurídico, de organizar um trabalho que atendesse à nova demanda. Assim surgiu, então, Concurso da Magistratura: noções gerais de Direito e formação humanística, coletânea de excelentes autores nacionais que se tornou um hit nesse mercado de concursos.

Mais ou menos na mesma época, outras carreiras jurídicas aderiram à novidade e assim – fato para celebrar – as disciplinas ganharam novo fôlego no currículo dos cursos de graduação em Direito, onde já estavam presentes, em função da norma instituidora das diretrizes curriculares da área (a Resolução n. 9/2004 do Conselho Nacional de Educação).

Após a experiência com o trabalho anterior, propusemos  ao Fábio que coordenasse agora uma nova obra, completa e com um nível de leitura acessível, que oferecesse esses conteúdos em volume único. Como sempre acolhedor de novas ideias, ele abraçou a proposta de imediato e nos entregou bem mais do que havíamos encomendado: nos deu a honra de publicar um manual sensacional, atento aos conceitos com os quais o aluno de Direito precisa entrar em contato, agradável de ler e, ainda por cima, ideal no tamanho, o que honramos com a atribuição de um preço justo e adequado ao bolso do estudante.

Fruto do que o coordenador da obra chama de tardia superação do normativismo, em função da qual disciplinas antes tidas como de menor importância foram reconhecidas como essenciais à aplicação do Direito, a obra fornece subsídios teóricos, didaticamente expostos, para uma interpretação dos princípios jurídicos calcada na realidade social para a qual e em virtude da qual o próprio Direito existe.

Porque efetivamente acredito na importância dessa valorização das matérias não-dogmáticas para a educação do Direito e para a cidadania, não vou festejar em excesso um outro fato, ocorrido por mera sorte ao longo da presente semana: um representante da Comissão do Exame de OAB declarou à imprensa que o órgão já pensa em inserir na avaliação, já a partir da primeira prova de 2012, as matérias de formação humanística, em resposta a críticas que o exame vem recebendo de diversos setores. A notícia me chegou no mesmo dia que os primeiros exemplares da obra foram enviados pela gráfica para fazermos o controle de qualidade!

Sorte também tivemos em contar com um time “de primeira” de autores que se debruçaram sobre o projeto e entregaram em pouquíssimo tempo um material de tanta qualidade. São eles, na ordem de apresentação dos capítulos: Diógenes Madeu, que entre outras coisas é professor, advogado e assessor jurídico da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo – CODASP; Gustavo Smizmaul Paulino, que leciona na Universidade São Judas, advoga, participa como pesquisador do Gedais da PUCSP/CNPq e é mestre pela mesma instituição; Antonio Sergio Spagnol, doutor em Sociologia pela USP, pesquisador, docente e autor de outros dois trabalhos já publicados; Carla Pinheiro, minha caríssima e duplamente colega, com a formação que possui em Direito e Psicologia, sendo também especialista em Direito público e em Direito privado, mestre e doutora pela PUCSP (ainda terei o prazer de publicar um manual de Psicologia jurídica de sua autoria); o grande Renan Aguiar, que é advogado, mestre pela PUC do Rio e Diretor Geral da Escola Superior de Advocacia do Rio de Janeiro; nosso querido Jerson Carneiro Gonçalves Jr., advogado, mestre e doutorando pela PUCSP, professor de várias instituições, membro associado do Conselho do IBDC e pesquisador da Capes; e por fim, mas não menos, o próprio José Fábio Rodrigues Maciel, que coordena, assina e co-assina capítulos da obra e é advogado, professor, mestre e doutorando pela PUCSP, Coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da UNIFAI, autor e coordenador de vários trabalhos pela Saraiva, pai dedicado de  três filhotes, além de um amigo especial, divertido e infelizmente menos presente na minha vida do que eu gostaria...

O tratamento gráfico do livro, em duas cores, foi feito de forma a tornar sua leitura ainda mais atraente para o estudante, e a capa repleta em detalhes de círculos reforça o aspecto orgânico de uma obra que fale sobre matérias de ciências humanas. Por isso, também fiz questão da profusão de cores e de grafar a palavra humanística em letra cursiva.

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Ocorre-me citar um pequeno trecho da obra Convite à filosofia, da Marilena Chauí (São Paulo: Editora Ática, 1998, p. 18), que assim justifica, com oportunidade, o valor do estudo da Filosofia e que aqui ouso estender às demais disciplinas abordadas em nosso novo livro:

Qual seria, então, a utilidade da Filosofia? Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.

Embarquemos nessa auspiciosa aventura, pois.

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Gostaria de agradecer pelos emails que tenho recebido de pessoas que passam por aqui, algumas delas deixando também comentários sobre os autores e obras. Informo, ainda, que instalei um recurso (ao lado direito da tela) para quem desejar cadastrar seu email e receber informações automáticas sobre a atualização do blog. A presença e o retorno de vocês a essa página me lisonjeia.

Fabinho, valeu por tudo, obrigado também a você pela confiança e pelo entusiasmo. É muito bom ter por perto gente engajada e ao mesmo tempo produtiva como você!

Era isso. Um abraço e um ótimo final de semana a todos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Renato Marcão analisa a Lei n. 12.403/2011


Ontem, 22 de setembro, conferindo de perto a abertura do 1.o  Fórum de Direito Penal do Instituto Delmanto e EBEC, que acontece até amanhã na FECOMÉRCIO, em São Paulo, tive a oportunidade de ouvir a brilhante palestra de Eloisa Arruda, digníssima Secretária de Justiça do Estado.

Em seu discurso consistente sob o ponto de vista lógico, e lúcido sob o ponto de vista político e social, a Secretária nos indagou acerca do papel do Estado perante o meio milhão de presos, assim como a mesma quantidade de mandados de prisão expedidos. Vamos construir mais presídios? Mais FEBENS? Mais fóruns? Ou vamos atacar as bases do problema do crime como resultado de um processo histórico que, sistematicamente, negligenciou a população, em especial a de baixa renda, e a deixou entregue à total carência de toda a sorte de recursos, à falta de educação, de hospitais, de perspectivas, de tutela para seus direitos mais elementares?

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Com esse breve relato da apresentação a que aplaudi de pé e que reputei digna de registro, gostaria de introduzir mais um novo lançamento da Editora Saraiva em parceria com seu prestigiado autor e, também meu grande amigo, o promotor de justiça Renato Marcão.

Significativamente dedicada “à liberdade” logo em suas páginas iniciais, Prisões cautelares, liberdades provisória e medidas cautelares restritivas é nossa contribuição para os operadores do Direito à espera da análise doutrinária precisa e abrangente das novidades trazidas pela Lei n. 12.403/2011, que alterou o Código de Processo Penal.

Aqui dotado da mesma clareza e objetividade que cativaram seu fiel público de leitores, o autor expõe sua aguardada interpretação da nova Lei, que, entre outras novidades, criou regras para a aplicação de medidas cautelares; desburocratizou o cumprimento do mandado de prisão; introduziu a prisão domiciliar, substitutiva da preventiva (que por sinal teve suas hipóteses de cabimento profundamente revistas); e estabeleceu formas cautelares diversas da prisão.

Embora não imunes a divergências entre processualistas penais, mas claramente impactantes do dia a dia dos cidadãos e dos serventuários da Justiça, as alterações têm por objetivo tentar aplacar um cenário onde sobressai aberta afronta a garantias fundamentais, inibidora da realização dos ideais democráticos e do verdadeiro e produtivo combate à criminalidade e ao degradante sistema prisional do nosso país.

A par das suas reflexões e ponderações de caráter técnico, o texto enfrenta as questões em debate à luz de rica argumentação embasada em fatos, autores, julgados e tudo o que mais possa servir à compreensão do assunto. Recomendo uma especial atenção aos valiosos quadros comparativos entre as regras novas e as anteriores, visando tornar o exame mais fácil e imediato.  

Todo esse conjunto é desenvolvido em mais de 360 páginas para, ao fim, receber uma aposta na evolução do sistema de penas e de medidas alternativas.

Como pontua o autor em nota, “sem uma mudança profunda de cultura e adoção de práticas verdadeiramente democráticas não há política criminal que possa ser exitosa”.

Nesse ponto, acredito que a visão contemplada nesse admirável trabalho vem somar-se às ideias de Eloisa Arruda, com as quais iniciei o post de hoje. Dessa forma, ergo-me para aplaudir também ao Renato pela sua mais recente contribuição, dentre as inúmeras que já são hoje leitura necessária a operadores e, ainda, estudantes, candidatos ao exame da OAB e ao ingresso nas carreiras jurídicas, pela via do concurso público.

Marcão, sei que você virou noites escrevendo, se entregou à obra quando a Lei ainda nem havia sido promulgada... Mas está aí o resultado de tanto esforço. Muito obrigado, lhe devo mais essa!

Gostaria de aproveitar para agradecer aos antigos e agora também aos novos amigos que encontrei após iniciar esse blog. Fiquem a vontade para continuar interagindo por intermédio do formulário de comentários abaixo ou, como tem sido preferido, pelos emails curia.luiz@gmail.com e luizcuria@editorasaraiva.com.br.

Mais informações sobre essa e outras obras jurídicas da Editora Saraiva estão disponíveis no nosso portal www.saraivajur.com.br.

Um abraço a todos e um ótimo final de semana!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Renato Becho e a arte da didática


Ano passado, uma querida colaboradora nossa da Editora Saraiva participou do curso de especialização em direito tributário do LFG, lá tendo contato com inúmeros professores da matéria. Entre tantos, ela salientou as qualidades de um em especial, Renato Lopes Becho.

Numa disciplina particularmente difícil como essa, o Renato – dizia ela – era capaz de traduzir em linguagem de fácil assimilação questões das mais intrincadas, mantendo desperta a atenção dos alunos presentes nas aulas e sua vontade em esmiuçar cada novo meandro do programa que, em palavras compreensíveis, lhes ia sendo descortinado.

Desde então, mesmo já contando com a presença de consagrados tributaristas no acervo da Saraiva, fiquei com uma excelente impressão desse notável professor.

Por isso, é grande o prazer de apresentar seu segundo livro conosco, dessa vez um manual em que se destaca a excelência didática da redação, vindo somar-se às outras grandes obras já existentes na nossa casa editorial. Não por acaso chamado Lições de Direito Tributário, esse lançamento entrega ao leitor o que o titulo promete: lições claras, com exposição do conteúdo impecavelmente organizada, proporcionando uma leitura realmente agradável (portanto não é clichê de editor, mesmo!), que flui com facilidade, dada a ausência de rebuscamentos e ao fato de ir diretamente ao assunto.

A preocupação didática torna-se evidente já no próprio texto de orelha, que aqui reproduzo parcialmente. Vejam só: “O objetivo é transmitir seu conhecimento para que o estudioso construa suas próprias conclusões, a partir das ideias formuladas”. A proposta, que soa moderna e ambiciosa – e de fato o é – apoia-se, com efeito, nas reflexões mais contemporâneas acerca do papel do educador. A este, atribui-se hoje a missão não meramente de fornecer dados prontos, mas de ensinar a aprender. Pensa-se que, a partir de um cabedal de conhecimentos e percepções, cada aluno – elemento ativo em seu próprio processo de aprendizagem – traz consigo um potencial de desenvolvimento, construindo por si e para si um conhecimento que tem no professor a figura de um facilitador. Tarefa, aliás, nobre e difícil de desempenhar, verdadeira arte.

Posso, por extensão, nela incluir o autor dos livros que o auxiliam na aventura do conhecimento?

Motivo de orgulho para nós brasileiros, um dos principais formuladores dessa nova e maravilhosa visão da educação foi Paulo Freire, que, em sua extensa obra, deixou-nos como legado a lição inspiradora de que é ao ser humano que cabe a direção da sua própria mudança, porque conhecer é pensar com autonomia e pensar com autonomia é transformar(-se).

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Voltando às Lições... Com o subtítulo Teoria Geral e Constitucional, suas páginas abordam os temas fundamentais do direito tributário brasileiro. Sem deixar de lado a evolução da jurisprudência e a análise dos clássicos, são apresentadas as disposições tanto da Constituição Federal quanto do Código Tributário Nacional, que em ordem crescente de complexidade são enfrentadas e, como mencionado mais acima, traduzidas em explicações de fácil compreensão ao aluno. E não apenas aquele envolvido com a graduação em Direito, mas também proveniente de outros cursos como Administração de Empresas, Economia e Contabilidade. Ao profissional às voltas com a matéria fiscal a leitura desse livro se mostrará igualmente valiosa.

Os tons pastel aplicados à capa tiveram por objetivo atribuir alguma suavidade à matéria, que por sua natural dificuldade é tantas vezes percebida como um tanto pesada e acessível a poucos, apenas.

Além de professor dedicado na graduação e pós-graduação de várias instituições, dentre as quais a PUC de São Paulo, Renato Becho é juiz federal, participa ativamente de congressos e seminários e é membro do IBDT (Instituto Brasileiro de Direito Tributário). O outro trabalho que publicou conosco foi Filosofia do direito tributário.

Sabendo que o retorno será grande para aqueles que apostarem na leitura desse manual ao longo da sua formação, dou ao Renato as boas-vindas ao catálogo de manuais da nossa casa, com o desejo de que seu trabalho seja valoroso companheiro de muitos estudantes em seu felizmente interminável processo de apreensão do mundo.

Afinal, agora nas palavras de Paulo Freire, educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante.

Um abraço a todos e até a próxima!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Rogério Greco, direitos humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade


Olá, pessoal. É com uma satisfação enorme que apresento a vocês o primeiro trabalho pela Editora Saraiva do grande e reconhecido penalista, Professor Rogério Greco: Direitos humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade, cuja chegada às livrarias está prevista para o dia 19 de setembro ou até antes.

Esse importante estudo parte da constatação de um sistema prisional “falido” como o que hoje vigora, com uma superlotação carcerária que a poucos é efetivamente capaz de reeducar e ressocializar. Com olhos postos nos direitos humanos do preso e farto embasamento do tema, o autor examina os princípios fundamentais da matéria, percorrendo com o leitor a evolução histórica da pena e da prisão, oferecendo-lhe soluções e alternativas possíveis para este que representa um dos maiores e mais crônicos problemas do nosso país (e também de inúmeras nações).

Para tanto, percorre inicialmente a questão do ius puniendi, entrelaçando-a à dimensão histórica dos direitos humanos. É a partir dessa consistente base teórica que o autor passa, então, a analisar os problemas e as orientações atuais da pena de privação de liberdade e da prisão. Assim, demonstra que os conceitos de Estado de Direito, direitos humanos e ius puniendi são interligados, não se podendo dissociá-los. É por essa razão que sobreviria a necessidade de uma atuação complexa e coordenada de todos os Poderes constituídos, adotando-se medidas de política estatal e criminal, bem como penitenciária, com a finalidade de evitar a prática de infrações penais. O que equivale a atuar no preventivo. A imediata intervenção do Estado, com a adoção de medidas conjuntas, inibiria então as desnecessárias privações de liberdade, destinando o cárcere somente aos casos extremamente graves, onde não exista outra opção a não ser a prisão de quem o praticou. O trabalho não deixa de discorrer, aliás em nível de detalhe, sobre alternativas à privação da liberdade e à prisão, provando ao final necessária a adoção de um direito penal mínimo e, como mencionado, de medidas conjuntamente aplicadas para resolver a questão, humanizando o sistema prisional.

Não é desmedida nem surpresa a crítica severa que nosso sistema carcerário recebe, de maneira histórica, na imprensa nacional e internacional. Isso em virtude da cruel imposição ao condenado de um ambiente de degradação que, reconhecidamente, quase sempre implica o cumprimento de uma pena muito maior que a aplicável em virtude do próprio delito cometido. O sistema o tortura, humilha, perverte, enfurece e por fim o desumaniza, inclusive vertendo em perigo real a por vezes apenas virtual ameaça presente naqueles que, na verdade, deveriam ser preparados para voltar ao convívio social. Mas que, em vez de ter salvaguardada a porção que lhe restava preservada, acabam corroendo-se por inteiro pela pena.

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Não tenho, nesse momento, como deixar de lembrar a saga de Raskólnikov, protagonista da obra Crime e Castigo, de Dostoiévski, monumento da literatura universal e um dos principais livros de toda minha vida. Confinado a uma prisão na Sibéria, Raskólnikov relata o horror do cárcere com a voz renitente da arte, a qual tomo a liberdade de reproduzir aqui, a partir da edição lançada em 2010 que integra os Clássicos da Abril Coleções, com tradução de Rosário Fusco, volume II, página 348:

Admitia, de preferência, ter cedido à força obscura do instinto (por covardia e por fraqueza). Observava com espanto seus camaradas de presídio. Como amavam a vida e quanto lhes parecia preciosa. Acreditou mesmo que esse sentimento era mais vivo no prisioneiro do que no homem livre. Que sofrimentos horríveis tinham sofrido certos deles, os vagabundos, por exemplo! Explicava-se pois que um raio de sol, uma floresta umbrosa, um regato fresco correndo no fundo de uma solidão ignorada, tivessem tanto valor a seus olhos; que ainda pensassem na fonte gelada, encontrada talvez três anos antes como um amante que sonha com a amada. Viam-na em sonho cercada de folhas verdes, com um pássaro a cantar no ramo próximo. À medida que observava esses homens, descobria fatos ainda mais inexplicáveis. Certamente, muitas coisas lhe escaparam na prisão, naquele meio que o cercava, e que talvez não as quisesse ver. Vivia como de olhos baixos, pois o que podia ver lhe parecia repugnante e insuportável.

Nesse ambiente que o induz à autorredenção, Raskólnikov é devolvido à vida, transformado pelo sofrimento e pelo arrependimento. Mas o que dizer dos condenados do nosso tempo?

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Dado o merecido prestígio de Rogério Greco em meio à comunidade jurídica, incluindo operadores, estudantes, professores e concurseiros, nossa expectativa é a de que a obra se torne um grande sucesso, também – e principalmente – em função de tema com tamanha relevância social como as vicissitudes do sistema prisional brasileiro.

Optamos por uma capa de linhas sóbrias, elaborada pelo Estúdio 23, com predominância da cor preta, de forma a antecipar no leitor a inquietação que o tema suscita e que o livro enfrenta com a coragem e a profundidade que renderam a seu autor o grau máximo de distinção quando do doutoramento em Direito pela Universidade de Burgos, na Espanha. 

A Editora Saraiva possui um catálogo bastante completo, com vários títulos especializados em direitos humanos. Para conhecê-los, visite a nossa página em www.saraivajur.com.br.

Para terminar esse post, gostaria de deixar registrado meu agradecimento a todos os amigos ligados à Editora Ímpetus, e também ao querido William Douglas, pela oportunidade de podermos lançar essa obra pela Saraiva.

Um abraço a todos vocês, com o desejo de que retornem muitas vezes a esse blog!